Em 2005, Therezinha de Fátima Gonçalves Cruzeiro, moradora e ex-professora da comunidade, escreveu um resumo de história de Pedras para o então presidente da Associação Comunitária de Pedras, Jesmo Lourenço Pereira, durante os preparativos da Solenidade de Instalação do Distrito de Pedras de Marilândia. Neste documento, Therezinha faz um relato bastante detalhado que apresenta um alto índice de confiabilidade, embora existam algumas pequenas diferenças, normais em casos como este, quando confrontado com depoimentos de outras pessoas.
Veja a transcrição:
Informações sobre o surgimento do povoado de Pedras. Município de Unaí - MG
O povoado de Pedras surgiu através do senhor Justino da Fonseca Melo (genro de Maria Degas doadora do terreno p/ construção da capela Nª Sra. do Livramento). Justino havia recebido uma graça de Nª Sra. e convidou os fazendeiros da região para criar o povoado no ano de 1950.
Os fazendeiros da época Rosendo Alves de Almeida, João Luiz Brandão (popular João Pequeno) e Manoel do Carmo A. Almeida*, Pedro Advíncula Alves de Almeida (Vinco) animados por Justino e Anísio A. Almeida deram início a construção da igreja entre os anos de 1951 e 1952. Quem se responsabilizou pela edificação da mesma foi o senhor Antônio (Pedreirinho).
Pedro Advíncula (Vinco), Justino, Anísio e Antônio dos Santos doaram as imagens. Os primeiros festeiros foram: Antônio dos Santos e Nazaré - Inacinho, Dª Velina e Justino e então no ano 52 meados de julho acontece a primeira Festa Religiosa, ficou como tesoureiro Marcelina Rodrigues, Dª Pedra do Sr. Juquinha, Maria Aparecida e Sr. Nico.
A escola era mantida pelos fazendeiros que traziam professores de outras localidades p/ alfabetizar os seus filhos na sua própria fazenda. Os professores eram pagos pelos pais que se desdobravam podendo ou não enfrentando tudo para que os seus filhos pudessem aprender a ler e escrever. Um tempo a escola funcionou na própria igreja. Estes professores foram o Sr. Angelino e Gerson Brito Vilas Boas. O primeiro professor contratado pela prefeitura foi Maria Senita Alves Rodrigues (filha do Vinco) no ano de 54 a 58. Depois veio Dª Vitália Andrade (de Paracatu) que lecionou muitos anos na gestão do Sr. prefeito Olímpio Ulhoa Santana (inspetor escolar da época era o Sr. Jacy Manoel da Costa). Adília professora ficou um tempo. No início dos anos 70 ela se muda p/ Paracatu e Terezinha de Fátima fica a frente da escola juntamente com Niralda Lourenço até um certo período. Passaram pela escola outros professores Noemes, Leonice, Feliciana (em períodos passageiros.)----------
No dia 16 de setembro de 2005, na Solenidade de Instalação do Distrito de Pedras de Marilândia, o então presidente da Associação Comunitária de Pedras, Jesmo Lourenço Pereira, fez um discurso no qual apresenta alguns dados históricos obtidos com os moradores mais antigos da comunidade e, em parte, baseado neste documento escrito por Therezinha de Fátima.
Veja abaixo:
Quero, em nome de toda a comunidade de Pedras, dar as boas-vindas a todas as pessoas que estão hoje aqui presentes. Quero desejar que todos sejam bem vindos à nossa comunidade. Dizer que nós sentimos honrados, a nossa comunidade se sente valorizada com a presença de todos vocês. Nossos agradecimento às pessoas que vieram das comunidades vizinhas por terem aceito nosso convite e hoje estão aqui prestigiando nossa comunidade e para comemorar com nosso povo este momento histórico que estamos testemunhando acontecer: A instalação do Distrito de Pedras de Marilândia. Nosso agradecimento às pessoas que vieram de Uruana, do Cercado, de Boa Vistinha, da Jibóia, de Garapuava, de Unaí... Estamos felizes com a presença de todos.
Nossa comunidade vive hoje um momento histórico: a instalação do Distrito de Pedras de Marilândia. Este é o acontecimento mais importante que este lugar já presenciou acontecer. Pedras de Marilândia quer se mostrar para o município, tem a pretensão de ser por este momento o foco das atenções. Mostrar o seu povo e sua história.
Instalar o distrito significa dizer para todos que, a partir de hoje, nós existimos como distrito integrante do Município de Unaí, o que antes era apenas um povoado agora assume o status de vila. É assumir uma nova condição: não somos ainda uma cidade mas, somos mais que um simples povoado. Somos a vila sede de um distrito. Ver o povoado de Pedras ser elevado à condição de distrito é a realização de um sonho de nosso povo.
Quando se fala em ser distrito a primeira idéia que vem à cabeça é a de um dia poder se emancipar, um dia poder se tornar uma cidade, formar um novo município independente. Certamente, nós estamos ainda um pouco longe deste dia, mas, sem dúvida, ser distrito é o primeiro passo neste sentido. Ser distrito não significa ainda ser independente, mas dá ao povo de Pedras de Marilândia o poder de escolher o seu próprio destino. O povo pode optar entre vários caminhos a seguir: Pedras continuar a ser parte integrante do município de Unaí como é hoje; No caso de uma possível emancipação de Garapuava, Pedras pode se juntar a Garapuava e formar um novo município, ou ainda, se for a vontade do povo e houver a aprovação das câmaras de vereadores, Pedras pode até vir a fazer parte de um outro município vizinho, como Uruana de Minas por exemplo. Esta terceira e última opção é muito mais difícil de acontecer, mas é legalmente possível. É um poder importante que os eleitores de Pedras de Marilândia conquistam. Somente os eleitores é que terão a palavra final em qualquer decisão deste tipo. É um poder tão importante que, talvez nós ainda não nos demos conta disso. Pode ser que a maioria de nós não tenha parado para pensar e não tenha refletido suficientemente a respeito da real dimensão que tal poder representa. E eu digo isto porque eu sei que pessoas que moram aqui em Pedras de Marilândia têm seus títulos e votam em Uruana de Minas. Temos que reconhecer que Uruana de Minas é uma cidade próspera, bonita e organizada, é chamada de a "princesinha do noroeste" e é natural que as pessoas queiram fazer parte daquele município. Achamos natural e reconhecemos isso. Não queremos, de maneira nenhuma, recriminar estas pessoas. Queremos apenas esclarecer que qualquer decisão deste tipo tem, necessariamente, que partir dos eleitores de Pedras de Marilândia e deve ser conduzido por uma entidade legalmente constituída, em nosso caso a nossa associação, que irá pedir por meio de uma representação que se inicie o processo. É o único caminho possível. Não existe outro. Ter o título de Uruana, votar em Uruana não quer dizer que Pedras irá pertencer a Uruana. Irá, pelo contrário, dificultar um processo neste sentido pois será necessário uma votação que aprove tal decisão - um plebiscito - e esses eleitores estarão impedidos de votar. Pedras de Marilândia tem nas mãos as rédeas de seu próprio destino, mas para isso é preciso que nós, os eleitores, tenhamos dicernimento para fazer a escolha certa no momento em que for necessário decidir. É preciso que as pessoas saibam, tenham consciência do poder que têm em mãos e que para exercer esse poder é necessário que tenham seus títulos e votem no lugar onde residem.
Quero dizer ao povo de Garapuava, aos senhores... Umberto Batista e Olímpio Antunes... Quero dizer ao povo de Garapuava que Pedras de Marilândia hoje se desliga de Garapuava para se tornar também um distrito. Isto não quer dizer que Pedras de Marilândia seja contra Garapuava ou que o povo de Pedras estivesse descontente com o povo de Garapuava. Não! De maneira nenhuma! Garapuava é o distrito origem, originou Pedras de Marilândia. Garapuava é como se fosse a mãe de Pedras de Marilândia. E Pedras é como o filho que vai se tornando independente, assumindo sua maioridade. Nenhum filho pode se voltar contra sua mãe por querer se tornar independente e nenhuma mãe fica descontente por causa disso. O povo de Pedras não pode ser contra o povo de Garapuava nem Garapuava ficar descontente por Pedras se tornar um distrito. Temos que caminhar juntos, Pedras e Garapuava lado-a-lado, buscando cada vez mais, o desenvolvimento de nossa região, melhorando as condições de vida de nosso povo, tirando proveito do que de melhor cada um de nós tem a oferecer individualmente e respeitando as particularidades de cada lugar. Quero agradecer ao povo de Garapuava pela serenidade com que acompanharam todo o processo de criação de nosso distrito, sem nenhuma contestação, sem criar nenhum impedimento, sem criar nenhuma dificuldade para que nosso projeto tivesse êxito. Isto para nós é o reconhecimento por parte do povo de Garapuava de que nós tínhamos razão naquilo que estávamos pedindo, que o nosso pedido era legítimo e que nós estávamos trilhando o caminho certo. O povo de Pedras de Marilândia será eternamente grato ao povo de Garapuava.
Acredito que eu não seria a pessoa mais indicada para falar sobre a história deste lugar. Minha família se mudou para esta região em 1970 e eu não acompanhei a história desde o início. Mas eu consegui acumular muitas informações. É possível que haja algumas imprecisões pois as informações vieram de muitas pessoas e são difíceis de se comprovar porque não existe nenhuma documentação escrita.
Nos anos de 51 e 52 os fazendeiros Rosendo Alves de Almeida, João Luiz Brandão (o João pequeno), Manoel do Carmo Alves de Almeida*, Pedro Advíncula Alves de Almeida (o Vinco), liderados por Justino da Fonseca Melo e Anísio Alves de Almeida, deram início à construção da Igreja que foi feita em um terreno doado por Maria Lopes da Costa (mais conhecida como Dª Dêga.) A partir deste fato passou então a se realizar todos os anos uma festa religiosa. Festa que ainda vem acontecendo até os dias de hoje.
É interessante a gente notar que os tesoureiros da igreja é que administravam o patrimônio, o terreno doado para a construção da igreja. Isto veio acontecendo até o início dos anos 90 quando a responsabilidade pelo patrimônio passou para os presidentes da associação. Esses tesoureiros foram: Marcelina Rodrigues, Dª Pedra, Maria Aparecida (Dª Tininha), Sr. Nico e mais recentemente Dª Terezinha.
Naquela época os fazendeiros contratavam professores de outras localidades e os traziam para alfabetizar seus filhos em suas próprias fazendas. Os primeiros professores foram: Angelino Rodrigues, e Gerson Brito Vilas Boas. A primeira professora contratada pela prefeitura foi: Maria Senita Alves Rodrigues, nos anos de 54 a 58. Depois vieram: Vitália Andrade, Adília, Terezinha de Fátima, Niralda Lourenço, entre outras pessoas. Atualmente a escola está a cargo de: Niralda Lourenço e Iva Alves Teixeira.
Para entendermos melhor a história de Pedras de Marilândia temos que lembrar em que circunstâncias esses fatos ocorreram. Naqueles anos de 1950, era comum as festas de romaria como a que acontece em Santo Antônio do Boqueirão. Aqui na região havia a festa das Lages. E as pessoas aqui do lugar iam nestas festas, de carro-de-boi, de cavalo. Isso era comum. As pessoas iam apesar das dificuldades. Eram festas famosas que atraíam muita gente. Foi pensando em fazer algo parecido que Justino Fonseca Melo ajudado pelos fazendeiros vizinhos deu início à construção da Igreja. A festa, realizada todos os anos até os dias de hoje, teve até seus momentos de glória, mas, não chegou a ser algo próximo ao que acontecia nas outras localidades como Lages e Santo Antônio do Boqueirão. Justino da Fonseca Melo e seus companheiros não conseguiram atingir seus objetivos completamente mas o fato de haver um terreno onde as pessoas eram livres para construir ali suas casas, deu as condições necessárias ao surgimento do povoado de Pedras. Isso já nos anos 70. Outro fator que contribuiu para o surgimento do povoado foi a construção do Grupo Escolar que até hoje abriga a Escola Municipal Heliodoro Teixeira. E o povoado foi evoluindo. Em 1988 ganha seção eleitoral e energia elétrica pelo então Vereador Mauro Vieira Magalhães. Em 1991 foi fundada a Associação Comunitária de Pedras sendo seu primeiro presidente Geraldo Ribeiro de Almeida. Depois vieram: Egídio Boaretto, José Tonin, Paulino Rodrigues Campos, Belchior Silva Fonseca e finalmente eu tenho estado à frente da associação nos últimos três anos.
O povoado de Pedras chegou aos anos 2000 com mais de 50 residências, contando com escola pública, sessão eleitoral com mais de 200 eleitores, reunindo assim, todas as condições necessárias para se tornar um distrito. Quem primeiro teve a iniciativa foi o Sr. Mauro Vieira Magalhães, o "Mauro Lapinha". Mas ele não teve sucesso em sua tentativa certamente por que lhe faltou quem o apoiasse ou por que, talvez, ele não tenha encontrado o ambiente político mais favorável ao desenvolvimento de seu projeto. Mas a idéia estava plantada. O povoado de Pedras estava pronto para se transformar em distrito e eu tive melhor sorte que o Mauro, encontrei melhor apoio e melhores condições para trabalhar. Procurei o Vereador Betinho Martins e pedi a ele que iniciasse o processo de criação do distrito. Trabalhamos sem pressa, primeiramente buscando junto aos órgãos competentes as informações. Betinho solicitou ao IGA a elaboração do projeto. Ele esteve em Belo Horizonte reunido com o IGA tratando das divisas entre os distritos vizinhos. A nossa associação pagou pelos serviços do IGA. O Vereador Betinho Martins então apresentou o projeto de lei do qual o Vereador José Inácio foi seu relator. Este projeto foi votado em dois turnos. Eu tive a honra de estar presente na última votação e pude conferir, surpreso, o enorme apoio que o projeto obteve: todos os vereadores que estavam presentes naquela sessão votaram a favor do projeto. Estava aprovada a lei criando o distrito de Pedras de Marilândia.
A lei foi aprovada, sancionada, mas, não foi publicada. A nossa associação não dispunha de recursos para publicar a lei. Já neste ano de 2005, o Vereador Betinho e eu nos reunimos com o prefeito Antério Mânica e pedimos a ele que providenciasse a publicação da lei. O prefeito prontamente atendeu ao nosso pedido. Mandou publicar a lei. E agora, como último ato, só resta fazer a instalação do distrito, motivo de nós estarmos reunidos neste momento.
Com o ato de instalação o povoado de Pedras passa a se chamar Pedras de Marilândia e definitivamente em distrito.
Quero lhe dizer Vereador Betinho, quero lhe dizer Prefeito Antério Mânica que o povo de Pedras de Marilândia jamais vai esquecer este feito; os nomes Betinho Martins e Antério Mânica passam, a partir de hoje, a fazer parte da história deste lugar.
O nome Pedras de Marilândia é uma homenagem que nossa comunidade presta à Maria Lopes da Costa, pessoa que na época era proprietária das terras deste lugar. Mas poderia ser qualquer outro nome, pois foram muitas as pessoas que contrbuíram para o surgimento do povoado.
Queremos prestar nossa homenagem à todas as famílias da região; aos Alves de Almeida, aos Fonseca Melo, aos Luiz Brandão... e tantas outras. Seria impossível citarmos todas.
Pedras de Marilândia hoje é também de Gaúchos, de Paranaenses, de Catarinenses, de Paulistas, gente que vem de todo lugar e encontram em Pedras de Marilândia o lugar ideal onde viver, desenvolver suas atividades seus negócios e suas empresas. Estamos felizes por isto. Se estas pessoas vêm é porque Pedras de Marilândia tem algo de bom a oferecer.
Pedras de Marilândia hoje se torna um distrito. Tem os olhos voltados para o futuro. É claro que o futuro de um distrito irá depender, em grande parte, de ações de governo. Neste ponto, Senhor Prefeito, eu gostaria de lhe parabenizar pela sua maneira inteligente de governar ouvindo primeiro a comunidade para depois decidir. Quero lhe parabenizar pela criação da Assessoria de Gestão Participativa que vem dando aos presidentes de associações maior esperança de ver suas questões resolvidas. Sou presidente a mais de três anos, venho acompanhando as mudanças e posso dizer, com toda certeza, que o atendimento na prefeitura mudou. Mudou da água pro vinho. Quero deixar, aqui de público, o meu reconhecimento.
O futuro de um lugar depende de ação de governo, como eu disse, mas depende do que nós, o povo, também fizermos. Ser distrito significa assumir também responsabilidades. Não é apenas reclamar direitos e cobrar. Não é que nós achamos errado reclamar mas nós entendemos que quem reclama tem o dever de propor uma solução. E este é o papel que nos cabe: trabalhar em conjunto com o governo municipal no sentido de identificar nossos problemas, nossas carências, e juntos, governo e comunidade, encontrar as soluções para estes problemas. Pedras de Marilândia deve chamar para si a solução de seus próprios problemas, propor o debate, sentar à mesa com quem de direito e negociar com seriedade, respeito, com a humildade de poder reconhecer seus próprios erros e de poder mudar de opinião quando encontrar uma idéia melhor. Agindo desta maneira Pedras de Marilândia, com certeza, terá um futuro brilhante pela frente.
Potencial de desenvolvimento Pedras de Marilândia tem, mas é preciso que se busque os investimentos para melhorar a infra-estrutura.
Apesar de incompletos, estes documentos trazem dados muito valiosos que não podem ser perdidos no tempo. Se você conhece a história de Pedras e quer contribuir para melhorar esta página, acrescentando mais conteúdo, ou mesmo corrigindo eventuais imprecisões, por favor, entre em contato comigo.
Veja os documentos originais:
Informações (por Therezinha de Fátima)
Discurso (por Jesmo Lourenço Pereira)
Veja também:
Escritura do terreno do povoado
Nota fiscal do IGA
Decreto nº 3.219
Mapa do Distrito
* Seu nome correto era João do Carmo Alves de Almeida